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Mostrando postagens de julho, 2012

Olhe mais fundo

Solange pegava todos os dias o mesmo metrô, aproximadamente no mesmo horário, e ficava em pé no vagão sempre no mesmo local. Olhava sempre para frente, para a janela, onde via diariamente os mesmos prédios cinza, os carros parados no trânsito e as pessoas indo trabalhar. Nesse dia, estranhamente o céu estava diferente. O azul se misturava com o amarelo do sol de tal forma, que até Solange percebeu. A luz penetrou a janela e refletiu em seu relógio, fazendo o reflexo passear por entre as pessoas que estavam ali. Ela acompanhou esse rápido movimento e se surpreendeu. A senhora sentada em sua frente estava cabisbaixa, tinha o olhar triste e distante, pensava em algo não muito agradável. O rapaz ao lado também tinha o mesmo olhar distante, mas sorria, mesmo estando naquele vagão abafado e barulhento. Estava feliz. Um homem estava com a namorada, observando ela falar sobre a amiga da amiga que ficou com o vizinho na balada. Apesar da mão colocada carinhosamente na cintura da moça, o o

Uma carta para o passado

Mais uma manhã de aula. E como todos os dias, Ana voltava para casa com as suas amigas. A escola era seu pegueno mundo, de onde tirava suas referências e suas experiências. Era a mais acanhada das amigas e talvez por isso, não chamasse tanto a atenção dos garotos. Afinal, ausência de beleza e de desenvoltura não é a combinação dos sonhos quando se tem 15 anos. Era apaixonada por Miguel, um garoto de sua turma. Ela nem sabia o porque, pois ele nem era bonito e também nem era tão legal, mas via algo de especial no menino. Ela o amava. Miguel, por sua vez, não via nada de especial nela. Ignorava sua existência e dava em cima da amiga de Ana, que parecia não ligar para o fato de que ela sofria calada ao ver isso. Ela gostava muito de suas amigas e fazia de tudo para agradá-las e vê-las felizes, apesar de isso criar feridas que dóiam muito ás vezes. Em certos momentos, sentia-se terrivelmente sozinha e achava que nunca seria feliz, pois só enxergava felicidade nas pessoas ao redor. E

Marcela e a caixa

Marcela sempre foi um exemplo de menina. Em casa, na escola, todos a admiravam pela sua delicadeza e simpatia. Estava sempre disposta a ajudar seus amigos e as pessoas próximas, afinal, todos precisam de alguém assim. E todos contavam com ela. Mesmo depois de moça, ela continuava a ser muito prestativa, sempre com uma palavra compreensiva e um gesto de atenção. Mas algo sempre intrigou as pessoas próximas de Marcela. Desde pequena, ela andava com uma pequena caixa de madeira em suas mãos. Ia com o objeto para todos os lados e dificilmente o soltava, a não ser para dormir, tomar banho ou comer. Todos eram curiosos para saber o que Marcela carregava dentro daquele objeto, mas nunca se preocupavam muito, afinal, ela era uma ótima pessoa. E isso nunca interferiu na vida de ninguém. Em um certo dia, Marcela estava sentada no banco de uma praça, com a caixa de madeira ao seu lado. Estava despreocupada, pensando em sua vida e nas pessoas, até que um senhor sentou ao seu lado. Imediata

Pouco

Se olhavam confusos, envergonhados e cheios de desejo. Foi então que ele a pegou pelo pescoço, e quando ela sentiu seus dedos em sua nuca, viu que nada mais impedia que suas bocas se encontrassem. Foi um beijo ansioso e ao mesmo tempo tranquilo e macio. Ambos se entregaram ao que seus corpos pediam naquele momento. Ficaram durante alguns minutos, conhecendo o gosto, o cheiro e o toque um do outro. O mundo não existia mais. Isso até seus lábios se separarem novamente. Nesse momento, ela acordou, olhou ao redor e para si mesma, e se recordou de seu mundo. Um beijo...que ficaria ali para sempre, mas que não seria o bastante.

Os dois lados da mesma palavra

Palavras. A paixão de ambos. E talvez por isso faziam tanto o uso delas, e as usavam com a intensidade de quem só tem aquilo e precisa se doar através do que possui. Conversas únicas, em que as risadas e a imaginação eram as protagonistas. Muitas vezes estavam dispersos, pois seus mundos particulares eram grandes e necessitavam de mais atenção em alguns momentos. Mas quando alcançavam a mesma linha de pensamento, o que nem era tão difícil, iniciava-se o duelo de intenções, ambos com seus desejos e estratégias. Chegaram muito perto de abandonar as palavras e transformá-las em momentos, mas um dos lados era complicado. O outro lado, por sua vez, não tinha medo e sempre se arriscava em sua vida. Foi nesse ponto em que as palavras, apesar de importantes, necessitaram de algo mais para finalmente serem transformadas. Esse algo a mais cabia apenas a uma das partes, o que não era compreendido pelo outro, que aliás, achava que compreendia. Isso porque, apesar da paixão de ambos pelas palavra